quarta-feira, 4 de maio de 2016
As nuvens pesadas de Juliano Gauche No segundo disco da carreira solo, o cantor e compositor capixaba se une a Tatá Aeroplano e ao cearense Junior Boca para falar sobre as próprias urgências
“Eu fico muito esquisito quando abro meu coração e só me resta,
agora, correr como quem morre de medo”. Jogada no meio da faixa Muito
Esquisito, a frase de Juliano Gauche é um resumo de como funciona a
mente deste cantor e compositor. Desconfortável no mundo e atormentado
no palavreado, ele usa a música como uma fórmula de escapar das
armadilhas criadas pela
própria mente.Esse desafogar de sentimentos é a tônica de Nas Estâncias de Dzyan,
segundo disco da carreira solo de Juliano Gauche. “Não gosto disso, não
sei por que. Música não se faz sozinho. Mas, como uso meu nome, é o
termo que se usa”, implica ele com o termo “carreira solo”. E há motivo
para isso. O álbum de 29 minutos divididos em nove faixas teve
contribuições decisivas de Tatá Aeroplano e Junior Boca, responsáveis
pelos arranjos e escolha da banda que acompanha o cantor desde o
trabalho anterior – o independente Juliano Gauche, de 2013. Caminhando sempre perto do abismo, Juliano Gauche faz música como
quem quer curar uma ferida. “Sim, tudo isso vai desmanchar assim que um
vento mais forte chegar”, avisa em Canção do Mundo Maior o artista que
já viveu muito preocupado com a própria morte. “Já fui mais porra louca e
realmente achava que eu poderia ter um piripaque a qualquer momento e
ir embora”, comenta ele que sempre ouviu conselhos para fazer terapia.
“Todo mundo fala isso. Acho que o terapeuta iria se divertir muito
comigo, por que é muita paranoia. De verdade, acho que preciso. Mas,
hoje não me sinto tão paranoico. Não sei se é por que casei”.
Ainda
que o matrimônio tenha trazido certo alívio (a esposa dele também
sugere a terapia), é mesmo na música que ele despeja as incompletudes e
aflições. “Talvez a música seja a minha terapia. Talvez seja a minha
forma de lidar com isso. É na música onde chove tudo. Quando escrevo,
acho que ninguém vai entender, mas sempre acaba virando alguma saia
justa”, lamenta pouco antes de encerrar a conversa. “Está ótimo, se não
você vai puxar outras loucuras e a gente pode ter que falar de
alienígenas”.por
Marcos Sampaio
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