Um caubói a favor do acordo nuclear com o Irã passou a ocupar um espaço nos intervalos do telejornal ancorado pelo comentarista ultraconservador Sean Hannity nas noites da Fox News.
“Estou aqui para dizer que o acordo com o Irã pode não ser perfeito, mas ajuda a restringir a habilidade do Irã de fazer uma bomba em pelo menos dez anos”, diz o homem de meia-idade com chapéu de vaqueiro. “E, se aprendi alguma coisa nesses anos, é que zero é menos do que dez.”
Esse garoto-propaganda atípico não está ali por acaso.
O anúncio, que parodia um comercial de três anos atrás contra a medida negociada pelos Estados Unidos, a União Europeia, a Rússia e a China com o objetivo de desmontar o arsenal nuclear do país asiático, é bancado pelo comediante britânico John Oliver.
De olho na data-chave de 12 de maio, em que Donald Trump pode retirar os EUA desse acordo, o apresentador do talk show “Last Week Tonight”, da HBO, que se debruça sobre o noticiário com humor cáustico, pensou que um jeito de influenciar o presidente americano era recorrer a um personagem que remete a seus eleitores mais fervorosos durante um de seus programas preferidos na TV.
O presidente é, também, espectador contumaz dos noticiários da Fox News, o que garantiria atenção ao filmete.
Trump, desde sua campanha pela Casa Branca, vem chamando o acordo nuclear com o Irã de “horrível”, “catastrófico”, “insano” e “incompetente”, alegando que o prazo estipulado pela medida de pelo menos dez anos pode permitir que Teerã volte a enriquecer urânio e fabricar bombas já na próxima década.
O acordo, mesmo com limites temporais, prevê inspeções por agências internacionais em qualquer parte do país, para evitar a formação de um novo arsenal, e é considerado pela comunidade internacional como medida necessária enquanto não se chega a um novo pacto.
Desde que assumiu o comando dos EUA, Trump diz que vai suspender a medida, sem contudo fazê-lo.
Agora, com os linha-duras John Bolton como seu novo assessor de Segurança Nacional e Mike Pompeo em breve no comando da diplomacia do país, o acordo corre risco iminente.
Bolton foi um financiador do comercial parodiado por Oliver. No original, uma família se senta para jantar quando de repente uma bomba atômica manda tudo pelos ares.
Aliados dos EUA, entre eles a França, defendem a manutenção do pacto. Mesmo na visita oficial do presidente francês, Emmanuel Macron, porém, o republicano tem criticado o acordo e parece ter convencido o francês a revê-lo.
“Se eles reiniciarem seu programa nuclear, terão problemas mais graves do que já tiveram antes”, afirmou o presidente americano, na Casa Branca. “Podem anotar isso.”
Há na escolha do programa onde inserir o spot uma provocação extra: neste mês, veio à tona que Trump e Hannity dividem o mesmo advogado, Michael Cohen, acusado de comprar o silêncio de uma atriz pornô que alega ter tido um caso com o presidente.
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